Tivemos recentemente a oportunidade de conversar com Salma Salazar, uma parteira jovem, moderna e muito activa, para conhecer a situação e os últimos desenvolvimentos no mundo da ginecologia e da maternidade. Durante a sua carreira profissional, Salma trabalhou na Catalunha, Castilla y León e é actualmente parteira na sala de partos do Hospital Viadmed Montecanal. Ela também colabora muito intensamente com o Centro Aldama, um centro que tem vindo a ajudar as mães em Saragoça há mais de 30 anos com a gravidez, parto e aqueles primeiros meses em que tantas dúvidas surgem. Salma está muito agitada e para além de ter publicado vários livros, está agora a estudar a osteopatia craniosacral.
Ser Parteira em Espanha
Salma é uma parteira apaixonada pelo seu trabalho e adora acompanhar as mulheres durante a gravidez e o parto. Como ela diz, “é um sentimento muito gratificante poder partilhar um dos momentos mais felizes da vida de uma mulher e um presente todos os dias”.
Em Espanha pensa-se muitas vezes que as parteiras só estão presentes na vida das mulheres quando estão grávidas, mas nada poderia estar mais longe da verdade. São treinadas para cuidar/assistir mulheres em todos os seus processos vitais, desde a puberdade ao climatério. Durante a maternidade, a parteira informa sobre a evolução normal da gravidez, do partoe do período pós-parto e está alerta para encaminhar qualquer situação invulgar para um especialista. De uma forma holística, ela também lembra às mulheres o poder do seu corpo para evoluir e mudar em cada momento do seu ciclo de vida.
Salma fala-nos do trabalho da parteira no centro de saúde e no próprio hospital. No final, ela reconhece que é um esforço de equipa entre as duas. No centro de saúde, o trabalho da parteira é educativo e informativo sobre programas tais como “Prevenção do cancro do colo do útero”, “Programas climatéricos”, “Apoio à amamentação“, “parentalidade” ou “adolescência”. Por outro lado, o trabalho no hospital está centrado na sala de parto e nas maternidades. Em alguns hospitais cobrem também o departamento de urgências e os departamentos de ginecologia e planeamento familiar.
Ser Parteira noutros países
A situação é diferente nos outros países. Por exemplo, no Reino Unido, a abordagem à maternidade e à situação das parteiras é muito diferente da que vivemos em Espanha. Aí, o parto é visto de uma forma mais fisiológica e natural. Há mesmo muito apoio para que o nascimento tenha lugar na própria casa da mãe ou em “casas de partos”. O apoio das parteiras estende-se também ao período pós-parto com visitas domiciliárias cobertas pelo sistema de segurança social do país.
A situação no nosso país vizinho, a França, é também muito diferente da situação em Espanha. Em França, o apoio à amamentaçãoestá muito bem estabelecido e as mães lactantes encontram todo o tipo de instalações para amamentar (no local de trabalho, em locais públicos, etc.), horários de trabalho flexíveis, etc…
O que significa Ser Parteira.
Ao falar com Salma, é fácil perceber que as parteiras são feitas de coisas especiais. A Salma diz-nos que uma parteira se caracteriza pela paciência e por saber respeitar os processos naturais da evolução de cada nascimento. No caso de Salma, ela trabalha de uma forma personalizada com cada mulher. É importante compreender que um primeiro nascimento é longo, uma média de 10-12 horas, e muitas mulheres entram em trabalho de parto à noite. “Nós, parteiras, estamos habituadas a trabalhar todo o tipo de horários e durante muitas horas de cada vez”, diz ela. É também importante valorizar o trabalho de equipa para que os nossos colegas possam cobrir-nos, a fim de recuperar as nossas forças após partos muito longos.
A relação entre as parteiras e os ginecologistas
A equipa na sala de parto é composta por uma parteira, anestesista e ginecologista, e o trabalho de equipa é também muito próximo. No caso de Salma, têm equipas onde quase sempre trabalham as mesmas pessoas, pelo que partilham as mesmas preocupações de trabalho e os mesmos objetivos. O respeito entre colegas é muito agradável e é evidente na forma como lidam com o paciente e nos resultados do seu trabalho. Além disso, a confiança é essencial para se poder trabalhar desta forma.
Salma sugere que deveria haver consultas de parteiras para que as mulheres possam ser atendidas individualmente tanto durante a gravidezcomo no pós-parto. Há empresas com a visão de que a parteira se preocupa apenas com a “educação materna” ou “assistência durante o parto”. Salma recomenda que forneçamos os meios para que as parteiras possam continuar a realizar uma actividade de acordo com o ginecologista.
Ela também defende a introdução da figura da parteira para atender a emergências ginecológicas pós-parto. Recebemos muitos problemas relacionados com a amamentação ou tratamento que são da competência da parteira e não nos é permitido atendê-los.
Uma história que deixa uma marca
Perguntámos a Salma sobre uma experiência profissional que a marcará em particular e ela falou-nos de um parto durante o seu tempo como enfermeira onde assistiu a uma mãe em trabalho de parto com 23 semanas e onde, infelizmente, o bebé não sobreviveu. Claro que, “como enfermeira, vivi uma das experiências mais difíceis da vida daquela mulher”. No ano seguinte começou a sua formação de parteira em Huesca, onde a mesma mulher grávida chegou a termo e foi capaz de dar à luz um belo rapaz bebé que nasceu saudável e bonito. “Foi uma experiência muito bonita que vivi com esta mulher, sem esquecer o que tinha vivido um ano antes num outro hospital.”
O Futuro da Profissão
Anos atrás, a parteira era uma profissão em que só as mulheres podiam trabalhar. Há já algum tempo que é uma profissão que pode ser desempenhada igualmente bem por homens e mulheres. Embora a maioria das parteiras sejam mulheres, cada vez mais homens estão também a prepara-se para desempenhar esta profissão.
Encorajaria os jovens a formarem-se como parteiras, dizendo-lhes que ser parteira é uma profissão vocacional. Se são realmente apaixonados pela aprendizagem e pela formação neste mundo, deveriam fazê-lo, mas sempre de um ponto de vista vocacional. Ser parteira envolve muito estudo a fim de ter acesso à especialidade. Além disso, uma vez obtida a sua especialidade tem dois anos que são muito intensos porque tem de adquirir todos os conhecimentos de que necessita para poder trabalhar como parteira. Para além das aulas, a auto-educação, a participação em congressos e a procura de conhecimentos fora do ambiente hospitalar, faz dela uma profissão com muito envolvimento profissional e pessoal.
As Mães Grávidas, a maternidade e a amamentação
Finalmente, pedimos a Salma uma reflexão sobre as mães de hoje e como elas lidam com a maternidade e foi isto que ela nos disse. Todas as mulheres estão preparadas para a maternidadese seguirem os seus instintos. Por vezes, outros factores entram em jogo, como o medo ou experiências anteriores que tornam a experiência da maternidade não tão fácil como gostaríamos que fosse. As mulheres têm muita informação na ponta dos dedos e por vários meios. Muitas vezes tudo o que precisam de fazer é arquivar esta informação no fundo da sua mente e deixarem-se guiar pelo seu próprio processo.
Tal como respeitamos a evolução natural do parto, a evolução natural da amamentaçãoé cada vez mais valorizada. Acompanhamos e resolvemos as dúvidas das mulheres, evitando rotinas de horários, o uso de tetinas e biberões e evitando a amamentação artificial, desde que seja a opção que a mãe deseja e não haja nenhum problema, em cujo caso seria então encaminhada para o pediatra ou ginecologista de referência.
Muito obrigado por partilhar a sua experiência, Salma. De Nursicare, desejamos-lhe a si e a todas as mães de quem cuida a melhor das sortes.